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DDT: Salvador ou Vilão?

Se os Pássaros se Calam…

“O poder de controlar a natureza é uma frase arrogante, nascida da idade da biologia quando se supunha que a natureza existe para a conveniência do homem.”

Rachel Carson

“O DDT é bom para mim!” – gritavam os anúncios dos anos 1940, enquanto crianças brincavam em nuvens do pesticida nos parques e donas de casa o pulverizavam alegremente nas cozinhas durante o jantar.

Campanha publicitária (década de 40)

Era a substância “milagrosa” que prometia acabar com a malária e o tifo para sempre. Hoje, é o símbolo máximo da destruição ambiental. Este é mais um episódio da história contraditória de como a Química mudou o mundo e quase o destruiu.


O HERÓI IMPROVÁVEL

Em 1939, quando vastas regiões do planeta afetadas pela malária ficaram conhecidas como “zonas de morte garantida”, o químico suíço Paul Müller apresentou uma substância obscura: o dicloro-difenil-tricloroetano – ou DDT, porque literalmente ninguém conseguia pronunciar corretamente o nome completo.

Os resultados foram espetaculares. O DDT matava insetos em minutos, mantinha-se ativo durante semanas e aparentemente era inofensivo para mamíferos. Müller pensou ter encontrado o “Santo Graal” da Química!

Durante a Segunda Guerra Mundial, o DDT salvou cerca de 500 milhões de vidas. Paul Müller recebeu o Nobel de Medicina em 1948 e foi aclamado como salvador da humanidade.

O DESPERTAR SILENCIOSO

Por volta de 1950, observadores atentos começaram a notar algo perturbante: os pássaros calaram-se! Na verdade, havia populações de aves predadoras em declínio acentuado, cascas de ovos que se partiam sozinhas e peixes mortos após as pulverizações.

A indústria química ignorou os sinais. Afinal, o DDT salvava vidas humanas, pelo que alguns “efeitos colaterais” na vida selvagem eram, supostamente, aceitáveis.

Mas em 1962, a bióloga marinha Rachel Carson publicou um artigo ao qual chamou “Primavera Silenciosa”, o qual mudaria o mundo para sempre.

Carson documentou meticulosamente como o DDT se acumulava na cadeia alimentar e, a cada nível, concentrava exponencialmente mais DDT. Apesar da indústria tentar desacreditá-la, as provas eram irrefutáveis: o DDT estava presente em todos os ecossistemas do planeta!

O DILEMA IMPOSSÍVEL

Em 1972, o DDT foi banido para uso agrícola e as populações de aves predadoras começaram a recuperar rapidamente. Contudo, os países tropicais ainda precisavam desesperadamente do DDT contra a malária, criando um dilema moral muito complicado: usamos o DDT ou não?

Hoje, o DDT ainda é usado legalmente para o controlo da malária em países africanos e asiáticos, com a supervisão da Organização Mundial de Saúde. Mas esta aplicação, embora limitada, continua muito controversa.


Moral da história

Os benefícios imediatos podem mascarar autênticos desastres. Atualmente, ainda não sabemos se o DDT é considerado o bom ou o mau da fita. Talvez seja os dois. E talvez seja essa a lição a tirar: a Química pode ser maravilhosa e terrivelmente devastadora, simultaneamente!  Não há soluções perfeitas…


Próximo artigo:

CFCs – O ar fresco que quase nos aqueceu para sempre


SÉRIE COMPLETA

  1. Fritz Haber – O homem que salvou mil milhões (mas Inventou o inferno)
  2. Marie Curie – Quando a Ciência mata os seus cientistas
  3. DDT: salvador ou vilão? – Se os pássaros se calam…
  4. CFCs – O ar fresco que quase nos aqueceu para sempre
  5. Plásticos – A Invenção que não conseguimos “desinventar”
  6. E=mc²  – A fórmula mais elegante e mais perigosa da história
  7. O Futuro – Os desafios nas vossas mãos

Acompanhem a série completa para saber como cada uma destas descobertas mudou o Mundo… e quase o destruiu!

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