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Ciência com consciência

No dia 24 de abril assinala-se o Dia Mundial do Animal de Laboratório: uma oportunidade para refletirmos sobre o papel dos animais na ciência, os avanços que possibilitaram e os dilemas éticos que levantam.

Um passado com patas

Ao longo da história, rãs, ratos e coelhos foram protagonistas silenciosos da ciência. Desde experiências de fisiologia e farmacologia até à descoberta de novos medicamentos, os animais de laboratório estiveram (literalmente) no centro de muitas revoluções científicas.

Um dos exemplos mais emblemáticos vem do século XVIII, quando o médico italiano Luigi Galvani, que dissecava râs há mais de dez anos, observou algo insólito: ao tocar nos nervos de uma rã com instrumentos metálicos, os músculos contraíam-se espontaneamente. Essa “dança elétrica” levou-o a propor a ideia da eletricidade animal.

Mais tarde, Alessandro Volta reinterpretou o fenómeno, mostrando que a eletricidade vinha dos metais usados e não da rã, o que o levou a criar a primeira pilha elétrica. A partir daí, a ciência desenvolveu-se tão rapidamente, de modo que hoje usamos a corrente elétrica em quase tudo!

Reduzir, Refinar, Substituir

Apesar dos contributos históricos, a ciência de hoje não pode ignorar os direitos dos seres vivos. Por isso, desde 1959, os princípios dos 3Rs orientam a experimentação animal moderna:

  • Reduzir o número de animais utilizados;
  • Refinar os métodos para minimizar o sofrimento;
  • Substituir os testes com animais sempre que possível.

Estes princípios estão integrados na legislação europeia e portuguesa, moldando a forma como se ensina e faz ciência atualmente.

Ciência sem cobaias

A boa notícia? Nunca houve tantas formas de fazer ciência sem recorrer a animais. Muitas delas são fruto de avanços em física, química e biotecnologia:

Química computacional e modelação molecular

Com supercomputadores e algoritmos, é possível prever como uma molécula se comporta num organismo. Desde a afinidade de ligação a proteínas até à toxicidade provável, os modelos moleculares aceleram o desenvolvimento de fármacos e reduzem a dependência de testes em seres vivos.

Simulações físicas e bioquímicas

Modelos matemáticos e físicos conseguem simular reações químicas em células, difusão de substâncias no corpo e até respostas imunológicas. São usados na investigação e no ensino.

Organoides (mini-órgãos)

A partir de células-tronco humanas, os cientistas conseguem criar estruturas 3D que imitam tecidos reais: cérebro, fígado, intestino, entre outros. Estes organoides já estão a ser usados em testes de medicamentos e estudos de doenças como o cancro ou a COVID-19, substituindo animais nas fases iniciais da investigação.

A ciência evolui — mas com ela, evoluem também as nossas dúvidas. Até que ponto é ético usar animais em nome do progresso? Será que um rato deve sofrer para salvar uma vida humana?

Talvez não haja respostas simples. Mas há uma certeza: uma ciência verdadeiramente avançada é aquela que combina ciência e consciência!


Para saber mais…


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